INFORME - @BD

CHEGOU A PRIMAVERA NO BRASIL, AQUI NA BAHIA A PRIMAVERA É MUITO MAIS GOSTOSA - RÁDIO BAIANA DIGITAL COM VOCÊ NA PRIMAVERA DA BAHIA


Como a indústria da música pop pode estar te deixando ansioso (e o que fazer para evitar isso)

Músicas que chegam às paradas ganharam batidas mais caóticas. Especialistas dizem que sons podem gerar agitação e ansiedade, especialmente se escuta não f...

Como a indústria da música pop pode estar te deixando ansioso (e o que fazer para evitar isso)
Como a indústria da música pop pode estar te deixando ansioso (e o que fazer para evitar isso) (Foto: Reprodução)

Músicas que chegam às paradas ganharam batidas mais caóticas. Especialistas dizem que sons podem gerar agitação e ansiedade, especialmente se escuta não for consentida; entenda Como a indústria da música pop pode te deixar ansioso Você não precisa viver de música, nem ser membro ativo de algum fandom para sofrer os efeitos psicológicos da briga pelo sucesso na indústria do pop. O tipo de som que toca nas paradas pode estar te deixando ansioso, mesmo ouvindo de forma involuntária. Isso tem a ver com o poder da música de gerar sensações no corpo: a combinação de ritmo, melodia, harmonia, timbre e altura -- alguns dos elementos que compõem uma canção -- é capaz de ativar diferentes regiões do cérebro ao mesmo tempo, causando emoções e respostas motoras, como o ímpeto de rebolar ao ouvir uma batida de funk. Um dos mais conhecidos estudos sobre esse tema é a Escala Emocional de Música de Genebra (GEMS, na sigla em inglês), criada pelo psicólogo Marcel Zentner em 2008. Com base em testes com música clássica, a pesquisa estabeleceu nove esferas de emoções relacionadas às experiências musicais: alegria, tristeza, encantamento, transcendência, nostalgia, ternura, tranquilidade, poder e tensão. No pop, as reações emocionais também são usadas a favor do bom desempenho de álbuns e singles, mas o foco mudou nas últimas décadas. “Nos anos 1980, 90, até o início de 2000, o pop era mais plástico, suave, mais ligado à serotonina [neurotransmissor conhecido como “hormônio da felicidade”, por gerar sensações de satisfação e bem-estar]”, explica o produtor musical brasileiro Mulú, parceiro de nomes como Pabllo Vittar, Luedji Luna e Duda Beat. Ele compara: “Mais recentemente, a produção musical passou a buscar mais sujeira, texturas sonoras e experimentação, elementos mais ligados à dopamina [neurotransmissor relacionado ao prazer, motivação e euforia].” Rugido de leão O grande marco dessa mudança aconteceu com a explosão do trap nos Estados Unidos, na virada para os anos 2010. A vertente do rap de batidas mais lentas e pesadas espalhou sua influência, criando uma era de sons mais graves no pop. Você deve se lembrar de hits como “Hotline Bling”, do rapper Drake, e “Lean On”, do Major Lazer com a cantora MØ, ambos de 2015. Dancinha de 'Hotline Bling' virou moda quando videoclipe foi lançado em 2016 Reprodução Foi nesse período que se popularizou na produção musical o tipo de som chamado de “sub-bass” (ou sub-baixo), um grave de frequência baixíssima, no início da percepção humana, que causa sensações além do ouvido. “A vibração dessa onda provoca algo físico, como se a música te tocasse, você sente o som interagindo com seu corpo”, define Mulú. É aquele “ventinho” que dá para perceber quando se está muito próximo de uma caixa de som. As batidas mais graves geralmente são responsáveis por adicionar profundidade, conduzir o ritmo e ditar o “groove” de uma música. No cérebro humano, elas são capazes de gerar sensações de poder e motivação nos ouvintes, segundo o artigo “The Music of Power” (a música do poder), publicado por cinco pesquisadores de universidades americanas em 2014. No entanto, os sentimentos podem se tornar negativos em alguns casos. Uma música mais grave pode deixar o ouvinte mais ansioso, especialmente se a escuta não for consentida, dizem especialistas ouvidos pelo g1. “Sons graves têm a característica de se espalharem mais facilmente pelo ambiente por causa do largo comprimento de onda. Por isso que escutamos mais o som grave vindo da festa do vizinho, por exemplo”, afirma o pesquisador em música, cognição e tecnologia José Fornari, do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora da Unicamp (Universidade de Campinas). Ele acrescenta: “Como esses sons mais graves são normalmente relacionados a situações tensas, potencialmente perigosas e solenes -- como o rugido de um leão ou um trovão --, na música, eles tendem a representar este tom afetivo.” Guerra do volume Outro fenômeno do pop que mexe com as reações do cérebro é o que vem sendo chamado de “guerra do volume”. Trata-se de uma espécie de corrida, na masterização de gravações digitais, para lançar músicas com uma percepção de volume cada vez mais alto. “O áudio digital tem um limite para a representação da intensidade sonora, pois ele é representado por números binários com uma resolução finita. Se a gravação vai além desse limite, o áudio clipa, ou seja, tem a representação da onda acústica distorcida, o que gera ruído”, explica o pesquisador da Unicamp. Por isso, quando você aumenta demais um áudio no computador, os sons mais graves se sobressaem e dificultam a audição de toda a gravação. “No entanto, a indústria fonográfica percebeu que faixas que soam mais alto, com mais volume, vendem mais”, diz José Fornari. “[Produtores e masterizadores] fazem o possível para aumentar ao máximo a percepção da intensidade sonora. Isso faz com que as faixas de áudio digital sejam cada vez mais comprimidas, aproveitando ao máximo esse limite, em detrimento da perda de dinâmica e da variação da intensidade sonora ao longo de uma música.” Billie Eilish em foto de divulgação do álbum 'Hit me Hard and Soft', um dos mais tocados do mundo em 2024 Divulgação/Estúdio Petros Na produção musical, um dos processos que causam esse efeito é chamado de saturação. “É como se você pegasse o sinal digital e replicasse ele, para fazer o som crescer, semelhante ao que acontece com a saturação de cor no audiovisual”, diz o produtor Mulú. Ele reconhece que a técnica se tornou comum na música pop. Fornari acredita que isso tem a ver com a forma como se consome música hoje: “Para mim, isso também se deve ao ruído urbano, que dificulta a percepção de nuances musicais. Isso faz faz com que o áudio mais comprimido facilite a escuta.” Música para relaxar Nessa trilha de batidas graves, distorcidas e intensas, apelar para músicas pré-classificadas como relaxantes pode não ser a melhor estratégia para se acalmar. “Hoje estamos sempre produzindo essa música do grave. Daqui a pouco tempo o ser humano vai estar tão pilhado que precisará muito de músicas mais calmas”, refletiu o cantor Silva, conhecido pelo repertório mais suave, em entrevista ao g1 Ouviu, podcast e videocast de música do g1. Ele contou que, quando quer relaxar, costuma ouvir discos de música ambiente produzidos no Japão nos anos 1980. Silva ao g1 Ouviu: 'A humanidade vai precisar de música calma como remédio' O pesquisador José Fornari confirma que faixas com pouca intensidade e pulsação podem ter um efeito mais calmante. Mas o mais importante, segundo os especialistas, é ouvir o que queremos e gostamos. O conselho pode parecer óbvio, mas, em tempos de playlists, o consumo de música nem sempre é tão direcionado. “Ao pensar em canções para relaxar, o que eu indico é refletir sobre qual música você realmente gosta, suas preferências individuais”, recomenda Julie Wein, cantora e doutora em neurociência da música pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Uma música pré-categorizada como relaxante não vai ser relaxante para todo mundo. O cérebro de cada pessoa responde de forma muito particular aos estímulos musicais”. A neurocientista acrescenta: “No fim das contas, o que tem mais influência é o gosto musical de quem ouve. Ele é o mais poderoso regente de como o cérebro vai responder à música.” Segundo Julie, há elementos que ajudam a construir o gosto musical: por exemplo, a familiaridade com determinadas canções - o fato delas terem embalado momentos agradáveis ou terem sido apresentadas por pessoas queridas. Mas um ritmo totalmente novo também pode ser bem recebido pelo cérebro já numa primeira audição. Isso a ciência não explica, diz a neurocientista. “Como a música pode causar emoções tão fortes, até em bebês pequenos? Esse ainda é um grande mistério em relação ao seu poder.”